CATÁSTROFES NATURAIS –
ANTES, DURANTE E DEPOIS!
Neilson Guimarães *
Em 2011 um estudo feito por cientistas
para o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas atribui ao
aquecimento global desastres naturais como seca, inundações, ciclones e incêndios.
Segundo relatório da ONU sobre o clima, com o aquecimento global provocado por
atividades humanas, os desastres climáticos serão mais frequentes e intensos, a
tendência é que a situação se agrave.
Centenas de cientistas que redigiram um
relatório para o IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) foram
contundentes: “os eventos climáticos extremos serão, no geral, mais graves e mais
frequentes nas próximas décadas, um risco a mais para a maior parte dos
habitantes de nosso planeta.”
De acordo com o relatório, é quase
certo que a frequência e a magnitude dos recordes diários de calor no planeta
vão aumentar neste século 21 e, provavelmente, a duração, frequência e intensidade
das ondas de calor continuarão a aumentar em quase todas as regiões. Os picos
de temperatura podem aumentar em relação ao fim do século 20, até 3°C em 2050 e
5°C até 2100.
Furacão Irene causa enchentes em Nova York (Foto: AP)
Em 2010, altas temperaturas geraram incêndios que destruíram florestas da Sibéria, o Paquistão e a Índia sofreram com inundações sem precedentes. Em 2011, os rios Mississippi e Missouri dos Estados Unidos transbordaram, o Texas foi atingido por uma seca terrível e afetado pelo furacão Irene. Na China, regiões inteiras tiveram secas intensas, enquanto fortes chuvas devastaram a América Central e a Tailândia.
Tailandeses em rua
alagada em Bangcoc, Tailândia:
Cena se tornará mais comum nos próximos anos,
segundo relatório da ONU
Segundo a Fundação de Amparo a Pesquisa
de São Paulo - FAPESP, em janeiro de 2011, enchentes e deslizamentos deixaram
cerca de mil mortos e 500 desaparecidos na Região Serrana do Rio de Janeiro. A
tragédia evidenciou a precariedade dos sistemas de alerta no Brasil e foi
considerada por especialistas como a prova definitiva de que era preciso
investir na prevenção de desastres.
Destruição em Nova Friburgo/RJ, provocada pela enchente em jan/11.
Em março de 2013, de acordo boletim divulgado pela Defesa Civil do ES as
chuvas que atingiram a Grande Vitória deixaram mais de 120 pessoas desabrigadas
e cerca de 560 pessoas desalojadas. Nesse mês o Centro de Monitoramento e
Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) enviou alertas de deslizamento e
inundações para Vitória, Vila Velha, Cariacica, Serra, Fundão, Santa
Leopoldina, Santa Maria do Jetibá, Anchieta e Alfredo Chaves. Os municípios da
região metropolitana, em especial Vila Velha, Cariacica, Vitória e Serra registraram
os maiores transtornos.
Caminhão passa por alagamento e cai em valão, no bairro Jardim
Marilândia,
em Vila Velha (Foto: Robinson Laser/ Vc no G1 ES)
Em dezembro de 2013, a Defesa Civil
capixaba afirmou em boletim sobre a situação das chuvas no ES que mais de 46.000
pessoas tiveram de deixar suas casas, segundo registros, o número de mortos
nesse período foi de mais de 20. Dos 78 municípios capixabas, 47 foram afetados por
enchentes e deslizamentos, desses, pelo menos 22 iriam decretar calamidade
pública.
No Brasil uma importante iniciativa foi
tomada para conter catástrofes, em agosto de 2011 especialistas reunidos no
seminário “Caminhos da política nacional de defesa de áreas de risco”,
realizado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP), subsidiaram
a criação da Lei 12.608/11 Política Nacional de Proteção e Defesa Civil que
cria o Sistema de Informações e Monitoramento de Desastres.
Essa Lei obriga as prefeituras a
investirem em planejamento urbano na prevenção de desastres como enchentes e
deslizamentos de terra. Segundo os especialistas, pela primeira vez a prevenção
de desastres poderá ser feita com fundamento técnico e científico sólido, pois
a lei determina que as prefeituras elaborem cartas geotécnicas dos municípios.
Cartas geotécnicas são documentos
cartográficos que reúnem informações sobre características geológicas e
geomorfológicas, identificam riscos geológicos e facilitam a criação de regras
para ocupação urbana. Com a obrigatoriedade desse instrumento, expressa na Lei 12.608/11,
teremos estratégias de prevenção de desastres traçadas com base em conhecimentos
técnico científicos. A primeira carta geotécnica do Brasil foi feita em 1979,
no município de Santos (SP), esse instrumento se manteve pouco difundido no
país.
As cidades terão que se organizar para
elaborar cartas geotécnicas, segundo Katia Canil pesquisadora do Laboratório de
Riscos Ambientais do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), não se trata
apenas de cruzar mapas, é preciso ter experiência aliada ao treinamento em
áreas como geologia, engenharia, engenharia geotécnica, cartografia, geografia,
arquitetura e urbanismo. O IPT já oferece um curso de capacitação para
elaboração de cartas geotécnicas. Os municípios que não apresentarem esse
planejamento perderão recursos federais para obras de prevenção e mitigação de
impactos.
Infelizmente a maior parte dos
desastres naturais que ocorrem no Brasil e no mundo não podem ser evitados, mas
as intervenções humanas podem agravar ou minimizar os impactos causados. Desmatamentos,
queimadas, assoreamento de rios, acúmulo de lixo, ocupação desordenada,
edificações mal construídas, ausência de plano diretor, dentre outras ações de desrespeito
à natureza podem agravar os riscos.
A mitigação de impactos dos desastres naturais se dá por meio de medidas
preventivas estruturais e não estruturais. As medidas estruturais, de cunho
corretivo, como obras de engenharia, são paliativas e caras, minimizam o
problema em curto prazo, e, frequentemente ocasionam outros impactos ambientais
gerando uma falsa sensação de segurança.
As não-estruturais, de caráter educativo, como mapeamentos, análises de
vulnerabilidade, zoneamentos das áreas de risco e a educação ambiental, são de
baixo custo e de fácil implementação, permitem a percepção do risco gerando
resultados de médio e longo prazo.
Morador de Vila Velha sai de casa em caiaque. Samira Bragatto/ VC no ESTV
Conhecer as causas e consequências de
um desastre para assim definir as medidas preventivas que serão adotadas, é uma
variável imprescindível. O ciclo de gerenciamento de desastres
envolve três fases distintas, o Antes, Durante e Depois.
O Antes é a fase que antecede a chegada
desses fenômenos extremos, conhecida como a fase de prevenção e preparação da
população para o impacto. Essa é sem dúvidas a fase mais importante, onde se
adotam medidas preventivas estruturais para a redução dos desastres, a exemplo
de: Análise de riscos; Execução de projetos de engenharia (galerias pluviais,
muros de contenção e outros); Elaboração de Políticas Públicas (Plano Diretor
Urbano, Zoneamento Ambiental, Legislação, etc.); Educação Ambiental em locais
afetados previamente mapeados, dentre outros. No momento que antecede o impacto
os sistemas de previsão meteorológica e hidrológica devem imprescindivelmente alertarem
de forma eficaz todas as possíveis vítimas.
O Durante, representa ao afetado pela
catástrofe a fase mais dramática da operação e envolve ações emergenciais de
socorro, salvamento, assistência, auxílio (evacuação, abrigo, alimentação,
atendimento médico e psicológico), e, se possível em curto prazo, o início das
atividades de restauro da área impactada.
O Depois, são as atividades planejadas
de reconstruções necessárias ao restabelecimento das funções básicas para o bem
estar das comunidades, a médio e longo prazo.
Os desastres naturais desencadeiam-se por
complexos processos que envolvem variáveis geofísicas (relevo, vegetação, rios,
precipitação...) e humanas (atividades econômicas, educação, ocupação do solo,
pobreza, população...). O uso de geotecnologias expressos na Lei 12.608/11,
devem ser aplicados pelos governantes nos processos de prevenção. Um eficiente
Sistema Integrado de Gerenciamento – SIG, é capaz de gerenciar de forma eficaz
ações de combate a sinistros e de socorro às populações afetadas.
O governo brasileiro por meio do
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE, dispobiliza a instituições ou
profissionais o software SPRING
(http://www.dpi.inpe.br/spring/portugues/index.html),
e, imagens do satélite CBERS (http://www.cbers.inpe.br/).
O SPRING é um Sistema de Informações Geográficas com funções de processamento
digital de imagens e consulta a banco de dados espaciais, já o CBERS (Satélite
Sino-Brasileiro de Recursos Terrestres) possui sensores capacitados para
aplicações em mapeamento e monitoramento ambiental. São duas geotecnologias
disponíveis gratuitamente para serem utilizadas pela sociedade brasileira na
temática desastres naturais. Mais vale prevenir antes a remediar depois.
Vitória 25 de dezembro de 2013
NOTAS:-
* -
- Bacharel em Arquitetura e
Urbanismo;
- Especialista em Gestão e Educação Ambiental;
- MBA em Gestão de Obras e Projetos;
- Pós Graduado em Engenharia de Segurança do
Trabalho;
- Pós Graduado em Gestão Empresarial;
- Mestre em Gestão e Auditorias Ambientais com
ênfase em Engenharia e Tecnologias Ambientais.
- Membro do Conselho Metropolitano de
Desenvolvimento da Grande Vitória - COMDEVIT;
- Membro do Conselho Regional de Meio Ambiente
- CONREMA V;
- Consultor Técnico associado à COOPTEC -
Cooperativa de Trabalho em Tecnologia, Educação e Gestão;
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